quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Qual é a cara do Brasil?


Para começar esse texto vamos fazer um pequeno exercício. Tente definir o Brasil em três palavras diferentes de: carnaval, futebol e mulher pelada. Parece uma tarefa simples, mas eu mesmo não consegui fazê-la.
Afinal que cara tem o Brasil?
Estive recentemente na França e resolvi sair um dia pela noite parisiense. Passando por um bar, vi que estava havendo uma festa brasileira e fiquei muito curioso para saber que tipo de festa seria. Quando entrei me surpreendi. Todos os funcionários usando roupas muito decotadas, largas, com a bandeira do Brasil estampada. As músicas que escolheram para tocar eram de artistas como: Shakira, Jennifer Lopez e Ricky Martin. Quando ouvi algo em português foi um remix que fizeram de um funk que dizia: eu quero dar minha xaninha. Para finalizar, a atração da noite era um dançarino mulato, com rastafáris, uma calça de capoeira estampada com as cores da bandeira do Brasil, dançando de maneira quase inapropriada.
Será essa a imagem que os franceses têm do Brasil? Que aqui somos todos mulatos, andamos com folhas de bananeira cobrindo o sexo, uma bola de futebol no pé, um pandeiro na mão, sambando e nos esfregando em lindas mulatas chamadas Teresa?

Relembrando a exibição do Miss Universo 2011, que aconteceu em São Paulo, foi possível entender a noção francesa sobre os brasileiros. A apresentação da cantora Claudia Leitte foi um prato cheio de clichês e estereótipos. A apresentação tinha dançarinos mulatos, de rastafári, tocando berimbau e fazendo acrobacias no palco. No centro estava Claudia Leitte vestida com uma roupa de pavão negro, sambando e cantando uma música em inglês. (clique aqui para assistir
Mas qual seria a melhor forma de representar o Brasil naquela festa ou em qualquer outro lugar? Não sei. O que eu sei é que não me sinto representado por aquele tipo de estereótipo. Não sou mulato, não tenho cabelo rastafári e não sou adepto da capoeira. Se eu dissesse que era brasileiro, provavelmente as pessoas naquela festa não acreditariam. Minha vontade era de gritar para todo mundo: Meu país não é só isso!
Um país de proporções continentais como o Brasil, que sofreu influência de inúmeras imigrações, está perdido em meio a tanta miscigenação. Enquanto essa miscelânea racial não encontra sua verdadeira forma, os próprios brasileiros não se identificam com o país que vive. O desconforto é tão grande que surgem até grupos como o “O Sul é Meu País”, que afirmam que a região sul possui diferenças econômicas e culturais muito distintas do resto do Brasil e por isso deve ser separado do restante do país.
Enquanto nossa identidade não é construída, nos perdemos em meio às críticas sobre a diversidade cultural do país que vivemos. Continuamos duvidando que o Acre realmente existe. A questão da divisão do Pará não é problema do resto do país. São Paulo fica com o título de capital das oportunidades. Rio de Janeiro fica com o samba, o carnaval e a criminalidade. Rondônia e Roraima são estados que muita gente nem sabe que existe. O Amazonas é só uma imensidão verde. O nordeste é considerado uma coisa só, onde todos sofrem com a seca, andam descalços, morenos de sol e trabalham em canaviais. Santa Catarina foi dominada pelos alemães e o Rio Grande do Sul é quase um outro mundo. Somos tudo isso e ao mesmo tempo não somos nada. Enquanto estamos perdidos em meio a tanta informação, o resto do mundo continua acreditando que falamos espanhol e que a capital do Brasil é Buenos Aires.


Twitter: @_falajose

Um comentário:

  1. Parabens pela materia. Vc conseguiu expressar claramente a imagem deturpada do nosso País que alguns brasileiros insistem em passar para o resto do mundo.

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