Há algum tempo venho pensando na
relação dos brasileiros com o mundo e vice-versa. São muitos os fatores que
envolvem esse diálogo cultural o que amplia exponencialmente o leque de
possíveis soluções, tornando extremamente amplo e subjetivo. Mas ao mesmo tempo
são relações que nos rodeiam o tempo todo, tanto para aqueles que vivem no
Brasil como para aqueles que vivem no exterior. Um fato ocorrido essa semana me
chamou particularmente mais a atenção.
A academia que frequento aqui em
Dublin é conhecida por ter muitos brasileiros. Talvez por causa do preço, da
proximidade ou pela propaganda boca a boca. Não é nada difícil ouvir alguém
falando português nos vestiários. Para muitas pessoas isso deveria significar
alguma coisa boa, uma união, um sentimento familiar, mas muitas vezes não é
isso o que acontece. A maioria dos brasileiros prefere não ser reconhecida como
tal. Essa semana um brasileiro fingiu não falar português para que as pessoas
não desconfiassem que ele é estrangeiro. É como se por dentro ele estivesse
pensando assim: “sou brasileiro, mas ninguém precisa ficar sabendo”.
Uma vez que uma pessoa se muda
para algum outro país seu principal objetivo é se camuflar, adentrar naquela
nova realidade. O que é extremamente saudável. O problema é que para isso alguns
brasileiros radicais acham necessário se tingirem e adotarem o sangue
estrangeiro por completo. Essa mudança às vezes é tão profunda que eles já não
se enxergam como aquele antigo brasileiro, mas sim como uma versão melhorada. Uma
vez concluída essa “miscigenação psicológica”, os “novos brasileiros” começam a
adotar políticas de anti-brasileirismo, por acreditarem que a cultura
estrangeira é a ideal, como modelo a ser seguido. É quase um fenômeno de
autoxenofobia, onde não há apenas desvalorização da sua própria origem, mas
também a discriminação da mesma.
Seria esse um medo de se sentir
desvalorizado ou ridicularizado por vir de um país diferente?

São muitas as possíveis
justificativas para o “complexo de vira-lata” brasileiro. No campo científico,
talvez por o Brasil nunca ter ganhado um prêmio Nobel; geograficamente, os
brasileiros sofreriam com o clima quente e úmido que predisporia os habitantes
à preguiça e luxúria; historicamente, pela miscigenação racial que o país
sofreu durante a época da colonização e imigração europeia, o que muitas
acreditam ter prejudicado o desenvolvimento e a imagem do Brasil como país
civilizado.
Então ser brasileiro é motivo de
vergonha? Eu me tornaria uma pessoa mais interessante se dissesse que sou
francês, por exemplo?
Se o brasileiro ainda sofre com o
Complexo de Vira Lata eu não posso afirmar. Mas não deixa de ser pertinente a
ideia de que a maioria dos brasileiros possui um olhar encantado por aquilo que
é estrangeiro e continua a depreciar deliberadamente o que é nacional. Por mais
que existam brasileiros ufanistas morando no exterior, em algum momento essa
depreciação vem à tona, seja para falar de política, futebol ou música. Não vou
ousar me abster de estar nessa categoria porque a arte de depreciar, criticar e
reclamar é inerente ao brasileiro, mas acredito que essa seja uma
característica que não temos que nos orgulhar.
Querer ou não ser reconhecido
como brasileiro no exterior é só um pequeno exemplo frente a um problema que é
muito maior. O objetivo desse texto não é estampar bandeiras do Brasil nas
janelas, nem incentivar os brasileiros a saírem com pandeiros e cantando samba
nas ruas. A construção do homem parte de uma origem, a qual não deve ser
escondida, mas sim desenvolvida. Fingir ser outra pessoa só sustenta os
problemas enfrentados desde para ser aceito socialmente. Quando você precisa
daquele tênis porque todo mundo tem ou quando você precisa beijar aquela garota
(o) porque estão todos os amigos olhando. O Complexo de Vira Lata, de Nelson Rodrigues,
não é um problema do Brasil, mas sim um problema dos brasileiros. Passam-se os
anos e o grande problema da humanidade continua o mesmo: a AUTOESTIMA.
Até que vc escreve direitinho. rs. Bom texto. Máximo.
ResponderExcluirO Adilson escreve muito bem.
ExcluirÈ mais ou menos isso mesmo.
ResponderExcluirFato interessante este que voce presenciou na academia, texto muito bem elaborado(parabens) mas este incidente isolado nao pode ser levado muito a serio out ate mesmo digno de muita discussao.
ResponderExcluirO ser humano tem fases e estas precisam ser respeitadas, independentemente da Nacionalidade do individuo, temos altas e baixas. Orgulho e vergonha(normal).
Vamos pensar um pouco mais no nosso crescimento pessoal, e deixar um pouco de lado aqueles individuos que ainda estao para se descobrir ;).
Adilson, gostei muito do seu texto. Eu acho que essa admiração pelos estrangeiros nos herdamos de nossos antepassados indios na descoberta do Brasil, e concordo que nós deveriamos ter mais orgulho de ser Brasileiros não apenas na Copa do mundo.
ResponderExcluirAbraços!
Marcos Telles
Adilson,adorei o texto!!Acredito que seja uma questão de auto-estima ou até um instinto de auto-defesa.Em 2005 na praia de Copacabana, estávamos ao lado de um grupo de argentinos que usavam uma técnica de conversar de tras para frente- uma precaução para que não fossem descobertos- onde mostravam a preocupação de serem descobertos, por isto se faziam passar por venezuelanos, talvez para que não fossem tratados com descaso ou deboche.
ResponderExcluirAdoro seus textos!!
Um abraço
Teresa