sexta-feira, 9 de março de 2012

Muito mais que uma questão de higiene


As Olimpíadas de 2012 será realizada na cidade de Londres, Inglaterra. Determinados em conseguir destaque no quadro de medalhas e se consagrarem como uma potência no esporte, os britânicos estão adotando posturas um tanto radicais. A Associação Olímpica Britânica (BOA) está instruindo seus atletas a amenizarem as saudações aos adversários antes, durante e depois das partidas. A entidade acredita que o aperto de mão pode transmitir doenças aos britânicos, o que pode comprometer o sucesso da equipe anfitriã.  O médico da associação, Ian McCurdie afirma que: "o maior risco na hora de obter um bom rendimento são as doenças e as lesões. Falamos em minimizar o risco de doença, tudo é questão de higiene".

Por outro lado, uma comissão de especialistas da Fifa acredita que os jogadores devem sim trocar mais apertos de mãos. O presidente da força-tarefa Futebol 2014 acredita na importância dos jogadores se reunirem ao fim do jogo para se cumprimentarem: “Acho que seria uma melhor imagem, deixarem o campo juntos, não recusar um aperto de mão. Eles devem ser exemplos e se comportar como modelos a serem seguidos”.

Se existem questões raciais envolvidas na postura britânica não é possível saber. O que podemos concluir é que a ausência das saudações em eventos esportivos transforma o esporte mais em uma expressão de guerra, de conflito, do que qualquer outra coisa. A disputa pelo melhor desempenho, pela maior força, é algo saudável, praticado há milhares de anos. Não estabelecer cordialidade com o adversário é estender posturas políticas, sociais e culturais, para dentro do campo, o que foge aos objetivos do esporte.

Nas Olimpíadas de Berlim de 1936, a Alemanha de Hitler viu no evento a chance de provar a superioridade da raça ariana. Porém, o chanceler alemão não contava que o atleta negro norte-americano Jesse Owes fosse ganhar quatro medalhas de ouro em provas de atletismo. Hitler se recusou a participar da premiação e se retirou do estádio.

Meu objetivo não é comparar Hitler aos britânicos. A partir do exemplo de 1936 é possível entender que a beleza do espetáculo se perde quando outros fatores interferem de maneira inapropriada. Evitar ser cortês com seu adversário significa trazer para dentro do campo um desconforto prévio. Se a preocupação dos britânicos fosse com a disseminação de doenças, eles não deveriam estar preocupados também em não querer transmitir doenças para outros jogadores? Seria esse o início tímido de mais uma noção de superioridade de raças?

A verdadeira celebração do esporte é poder juntar em um mesmo lugar milhares de pessoas de origens e credos diferentes para uma grande festa. A importância das Olimpíadas é tão grande que os países na Grécia antiga interrompiam seus conflitos para participarem da competição. As Olimpíadas assim como qualquer outro evento esportivo deveria ser um campo neutro onde que por breves quinze dias de competição todos se esquecessem de seus problemas e defendessem seus países no verdadeiro espírito  esportivo.

Um comentário:

  1. Apenas uma observação: quando se trata de Jogos Olímpicos, a Inglaterra é tratada como Grã-Bretanha. Nos futebol, sim, há a separação entre os países. Fato este que colabora para a Fifa se vangloriar de ter mais filiados que o COI rs

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