Incrível os
diversos mecanismos que o ser humano tem de se esquivar de situações
embaraçosas. Algumas pessoas ficam vermelhas, outras olham timidamente para
baixo e outras esboçam pequenos sorrisos nervosos. O desconforto é um estado de
inquietação quando alguém se depara com uma situação incomum, imprópria ou
desconhecida.
Durante uma
sessão do filme “A Pele que Habito”, no Shopping Leblon, do Rio de Janeiro, aconteceu
um fato bastante curioso. A obra de Pedro Almodóvar, renomado cineasta espanhol,
conhecido por retratar o drama em roteiros densos e imprevisíveis, foi recebida
com risos e comentários capciosos. Durante uma cena de estupro, em meios aos
gritos desesperados da atriz, muitas pessoas estavam rindo da situação. É como
se elas estivessem esquecido completamente a barbárie que estava sendo
retratada. Comecei a pensar que talvez eu não estivesse entendendo realmente o
que aquela cena queria passar. Será que as pessoas estavam realmente achando
graça ou estavam apenas constrangidas?
O
constrangimento frente ao estranho, diferente, bizarro, é uma reação normal.
Vivenciamos essa realidade diariamente quando deparamos com situações em que o
desconhecido, o incomum, nos é apresentado. O riso ouvido na sala de cinema foi
apenas uma forma de demonstrar uma inquietação.
O riso como
camuflagem para situações embaraçosas pode se tornar uma arma perigosa quando o
constrangimento se torna uma motivação para o ataque. A piada vem geralmente
acompanhada do escárnio, que procura enaltecer negativamente características
físicas ou psicológicas do outro. As pessoas acabam se apegando a pequenos
detalhes alheios para fugir daquele momento constrangedor. O uso do escárnio e
da depreciação a uma pessoa ou produto pode significar uma atitude, muitas
vezes, discriminatória e remete a uma postura que transcende as salas de cinema
e atinge a sociedade. A intolerância com alguma determinada situação ou
comportamento é tão grande que a única solução encontrada é rir, debochar,
agredir ou destruir, tudo para deixar o desconforto menos desconfortável.
O modo de se
expressar frente a uma realidade é algo livre e individual, tanto para o
espectador no cinema quanto para o homem na sociedade. Talvez o risinho seja
usado como válvula de escape por uma sociedade que experimenta algum tipo de
repressão ou conservadorismo sexual. Ou por aqueles que apenas não se sentem a
vontade frente àquilo que lhe está sendo oferecido. Porém, o constrangimento
pode ser também apenas uma preguiça de pensar. Observar o mundo como algo muito
maior e diverso do que está a sua volta pode ser uma tarefa muito cansativa e
até assustadora. Conhecer o diferente pode ser uma saída interessante para
evitar situações que antes seriam embaraçosas. Só conhecendo aquilo que é diferente
é possível disseminar o respeito e combater preconceitos.
Twitter: @_falajose
Eu vejo um limite entre o riso constrangido (nem todo mundo lida bem com esse tipo de cena, por exemplo)e quando extrapola para a discriminação... O primeiro, compreensível.
ResponderExcluirO segundo, deve ser coibido!
Amei seu texto! <3
Vou voltar sempre!
FALOU O JOSÉ, e disse tudo...muito interessante tratar disso. Vivenciei algo bem semelhante assistindo ao filme CAVALO DE GUERRA, quando as pessoas riam em cenas pesadas. É o riso sim uma válvula de escape, de fuga, para não ter que lidar com a situação, demonstrar socialmente que nem mesmo acredita no que vê, mas no fundo o incômodo é outro. Escapa-se com o riso do salutar contato com outra realidade/situação, evitando-se mesmo racionalizar o fato!
ResponderExcluirDepois vou te colocar na minha lista de blogs aqui, há tempos não publico, mas já já surge algo =P
www.dooutroladodeca.blogspot.com
Abração!