sábado, 28 de abril de 2012

Complexo de Vira-Lata


Há algum tempo venho pensando na relação dos brasileiros com o mundo e vice-versa. São muitos os fatores que envolvem esse diálogo cultural o que amplia exponencialmente o leque de possíveis soluções, tornando extremamente amplo e subjetivo. Mas ao mesmo tempo são relações que nos rodeiam o tempo todo, tanto para aqueles que vivem no Brasil como para aqueles que vivem no exterior. Um fato ocorrido essa semana me chamou particularmente mais a atenção.

A academia que frequento aqui em Dublin é conhecida por ter muitos brasileiros. Talvez por causa do preço, da proximidade ou pela propaganda boca a boca. Não é nada difícil ouvir alguém falando português nos vestiários. Para muitas pessoas isso deveria significar alguma coisa boa, uma união, um sentimento familiar, mas muitas vezes não é isso o que acontece. A maioria dos brasileiros prefere não ser reconhecida como tal. Essa semana um brasileiro fingiu não falar português para que as pessoas não desconfiassem que ele é estrangeiro. É como se por dentro ele estivesse pensando assim: “sou brasileiro, mas ninguém precisa ficar sabendo”.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Onde está a felicidade?


Vivemos na imperativa e cansativa sociedade que nos obriga a sermos felizes. Crescemos aprendendo que devemos estudar, formar em uma boa faculdade, conseguir um bom emprego, comprar uma casa, para depois casar, ter filhos e, finalmente, ser feliz. É um passo a passo típico de receita de bolo, mas que na prática, nem sempre garante resultados positivos.

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado a noite virou a obsessão do brasileiro. No sábado todos precisam ser felizes. É dia de sair com os amigos, beber, dançar, namorar... é dia de alegria. Graças à ajuda do “Cidade Negra” isso virou regra. Ficar em casa em um sábado a noite é um desperdício e de tempo e juventude.  Mas o que todo mundo realmente espera de um sábado à noite? Um emprego melhor, um novo namorado, uma diversão momentânea...

sexta-feira, 9 de março de 2012

Muito mais que uma questão de higiene


As Olimpíadas de 2012 será realizada na cidade de Londres, Inglaterra. Determinados em conseguir destaque no quadro de medalhas e se consagrarem como uma potência no esporte, os britânicos estão adotando posturas um tanto radicais. A Associação Olímpica Britânica (BOA) está instruindo seus atletas a amenizarem as saudações aos adversários antes, durante e depois das partidas. A entidade acredita que o aperto de mão pode transmitir doenças aos britânicos, o que pode comprometer o sucesso da equipe anfitriã.  O médico da associação, Ian McCurdie afirma que: "o maior risco na hora de obter um bom rendimento são as doenças e as lesões. Falamos em minimizar o risco de doença, tudo é questão de higiene".

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

As três virtudes brasileiras


Nós brasileiros vivemos sob a forte coerção de três virtudes. Elas agem por si só, mas também estão intrinsicamente enraizadas, uma vez que são causa e consequência entre si. São características e comportamentos que interferem em onde estamos e o que queremos ser.

O primeiro deles é o conservadorismo. Brasileiro odeia mudanças. Anseia por elas, mas as odeiam quando praticadas. A sociedade parece não ter evoluído com o tempo. Praticamos conceitos machistas, discriminatórios e vivemos sob preceitos religiosos retrógrados sobre família e felicidade.  Pedimos por mudanças, mas que elas aconteçam de uma forma que não nos afete. Aceitamos realidades distintas contanto que não sejam em nossas famílias. Queremos reformas, mas não queremos a poeira em nossas casas. Queremos algo, mas não queremos nos mexer.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os verdadeiros participantes do Big Brother


No paredão entre Ronaldo e Fabiana, Pedro Bial soltou em meio às suas filosofia uma declaração que considero a melhor definição do que é Big Brother Brasil:

“Este programa é tanto que ainda suscita mais que espectadores. Espectadores assíduos, divididos entre a favor e contra, acreditem, na 12ª edição! Contra ou a favor não deixam de assistir, como se fosse guerra fria, como se não fosse um programa de televisão. E é verdade. Não é só um programa de televisão. É um espetáculo de natureza humana que, ao contrário do que rumina o senso comum, sem dúvida revela muito mais sobre a natureza de quem espia do que de quem é espiado. Revela muito mais sobre quem vê do que sobre vocês que estão aí para ser vistos.”


Não acredita? Eu explico. Uma matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, no dia 22 de janeiro, trouxe um caso interessante. Em 2007 na África do Sul, um caso de estupro garantiu uma mancha negra na história do Big Brother no país. Richard Bezuidenhout, 24 anos, foi acusado de estuprar com os dedos uma colega de confinamento. A enfermeira Ofunneka Molokwu, 29 anos, estava desacordada em coma alcoólico, quando Richard se aproximou. Em meios a pedidos dos próprios participantes do programa para parar com a agressão, Richard não se intimidou e justificou a violência: “Estamos na África do Sul”. Ao fim do programa, Richard Bezuidenhout se consagrou campeão do Big Brother África.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Qual é a cara do Brasil?


Para começar esse texto vamos fazer um pequeno exercício. Tente definir o Brasil em três palavras diferentes de: carnaval, futebol e mulher pelada. Parece uma tarefa simples, mas eu mesmo não consegui fazê-la.
Afinal que cara tem o Brasil?
Estive recentemente na França e resolvi sair um dia pela noite parisiense. Passando por um bar, vi que estava havendo uma festa brasileira e fiquei muito curioso para saber que tipo de festa seria. Quando entrei me surpreendi. Todos os funcionários usando roupas muito decotadas, largas, com a bandeira do Brasil estampada. As músicas que escolheram para tocar eram de artistas como: Shakira, Jennifer Lopez e Ricky Martin. Quando ouvi algo em português foi um remix que fizeram de um funk que dizia: eu quero dar minha xaninha. Para finalizar, a atração da noite era um dançarino mulato, com rastafáris, uma calça de capoeira estampada com as cores da bandeira do Brasil, dançando de maneira quase inapropriada.
Será essa a imagem que os franceses têm do Brasil? Que aqui somos todos mulatos, andamos com folhas de bananeira cobrindo o sexo, uma bola de futebol no pé, um pandeiro na mão, sambando e nos esfregando em lindas mulatas chamadas Teresa?

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

No murmurinho do cinema


Incrível os diversos mecanismos que o ser humano tem de se esquivar de situações embaraçosas. Algumas pessoas ficam vermelhas, outras olham timidamente para baixo e outras esboçam pequenos sorrisos nervosos. O desconforto é um estado de inquietação quando alguém se depara com uma situação incomum, imprópria ou desconhecida.
Durante uma sessão do filme “A Pele que Habito”, no Shopping Leblon, do Rio de Janeiro, aconteceu um fato bastante curioso. A obra de Pedro Almodóvar, renomado cineasta espanhol, conhecido por retratar o drama em roteiros densos e imprevisíveis, foi recebida com risos e comentários capciosos. Durante uma cena de estupro, em meios aos gritos desesperados da atriz, muitas pessoas estavam rindo da situação. É como se elas estivessem esquecido completamente a barbárie que estava sendo retratada. Comecei a pensar que talvez eu não estivesse entendendo realmente o que aquela cena queria passar. Será que as pessoas estavam realmente achando graça ou estavam apenas constrangidas?
O constrangimento frente ao estranho, diferente, bizarro, é uma reação normal. Vivenciamos essa realidade diariamente quando deparamos com situações em que o desconhecido, o incomum, nos é apresentado. O riso ouvido na sala de cinema foi apenas uma forma de demonstrar uma inquietação.